segunda-feira, 27 de setembro de 2010

De volta ao passado


Poucos discos me empolgaram tanto quanto o último de Phil Collins. Ainda que seja um disco inteiro com covers dos anos 60/70, feito basicamente do som da gravadora americana Motown, é um trabalho passional, no qual Collins busca olhar para trás, mostrando o tipo de som que norteou o seu início na música. O que levou a escolher a profissão de fé na qual se consagraria como um dos maiores nomes do pop rock mundial.

O disco tem vários bons momentos. Collins buscou canções que se moldam bem ao seu estilo de vocal. Mas é preciso entender que ele é britânico e de cor branca. Ou seja: por mais que tente render tributo ao estilo soul, sempre faltará um algo mais, que só um vocalista negro (ou afrodescendente) poderia acrescentar.

Para gravar o disco ele reuniu os músicos que tocavam no estúdio da Motown, apelidados de Funk Brothers. Com seu time de amigos, fez uma cozinha ritmica impecável, que pode ser notada nas faixas Heatwave e Girl (Why You Wanna Make Me Blue). O resultado falha um pouco em canções como Papa Was A Rolling Stone. Mas nas de formato pop, feitas para tocar em rádio, Collins deita e rola à vontade.

A faixa título, Going Back, é de uma rara beleza. Não se sabe bem se é uma despedida (ele enfrentou sérios problemas de saúde nos últimos anos) ou apenas um olhar saudosista para o passado. Mas é certo que a melodia de Carole King e a letra de Gerry Goffin caíram como uma luva para o momento que ele atravessa.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

20 anos sem Cazuza


Atendendo a pedidos, reproduzo no blog o texto publicado pelo Jornal A Tribuna no dia 9 de julho, sobre os 20 anos da morte de Cazuza, o Poeta do Rock Nacional.

Seu partido era nada mais do que um coração partido. E 20 anos depois da morte do poeta do rock, Cazuza, ainda continuamos como aquele menino que queria mudar mundo imaginava que estaríamos: assistindo a tudo em cima do muro.

Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, nasceu na Cidade Maravilhosa. Foi exagerado talvez nas palavras e no seu jeito de viver, sempre nas curvas na estrada. Mas, solidão, que nada. Como vocalista do Barão Vermelho, catalisou um momento mágico do rock nacional na década de 80, ao interpretar clássicos como Bete Balanço, Todo Amor Que Houver Nessa Vida e Pro Dia Nascer Feliz. E firmou uma sólida parceria musical com Roberto Frejat, guitarrista do grupo.

Suas letras refletiam uma melancolia incomum. Tanto que quem escutava logo se identificava com os compositores clássicos da MPB, como Lupicínio Rodrigues e Dolores Duran. Dois nomes que aliás foram importantes em sua formação artística.

As desavenças pessoais com os demais integrantes do Barão Vermelho acabaram por empurrá-lo em uma carreira solo que teve sucesso fugaz. Os dois primeiros discos emplacaram hits nas rádios. Mas foi com Ideologia, o terceiro álbum solo, que ele deu um salto de qualidade em seu trabalho.

Virou porta-voz da nação ao comparar o Brasil com uma festa onde você é barrado enquanto os corruptos se aproveitam da situação. Mas também era capaz de emocionar ao transformar uma simples canção pop em um clássico em ritmo bossa nova. Faz Parte do Show foi trilha sonora de novela e da vida de muitos que viveram com intensidade os anos 80.

Gravou um disco ao vivo, que conta com o clássico O Tempo Não Para, cujo clipe causou polêmica por mostrá-lo cuspindo em uma bandeira nacional jogada no palco.
A sua atitude agressiva refletia que a píscina de Cazuza estava mesmo cheia de ratos. A Aids, resultado de uma vida vivida sem limites, começava a cobrar o preço de seus excessos.

Ainda lançaria mais um álbum em vida, tendo como alvo a Burguesia. Logo ele, que sempre frequentou as festas do Grand Monde. Mas já estava muito debilitado fisicamente. Tornou-se símbolo da luta contra o preconceito da Aids no Brasil. Admitiu publicamente a doença e nunca perdeu as esperanças de buscar uma cura.

Mas em julho de 1990, a vida, louca vida, vida breve, fez o que ele tanto pediu no palco. Já que ele não podia levar a vida, a vida o fêz, levando-o deste mundo. E a música nunca mais tocou daquele jeito.

Hoje em dia, sua obra é reverenciada pelos críticos e público. Suas canções ainda embalam a memória dos que têm mais de 30 anos de idade. Mas o Poeta está vivo de verdade. Pois mesmo a geração mais recente reconhece o valor de alguem que tinha um sonho e procurou vivê-lo de todas as formas possíveis, transformando o tédio em melodia. Buscando todo amor que houvesse nessa vida, com algum trocado prá dar garantia.

sábado, 19 de junho de 2010

O trono do reino pop está vago?


Um ano depois da notícía que surpreendeu o mundo do pop, ainda é difícil dimensionar o impacto da morte de Michael Jackson na indústria do show business e da música. Ele já não tinha mais o mesmo apêlo comercial dos anos 80. Mas sua influência na nova forma de divulgação da música, os vídeoclipes, é evidente. Passou-se a dar uma importância maior a produção dos vídeos e aos shows ao vivo, sem sombra de dúvida.

Mas a pergunta que não quer calar é uma só: o trono do Rei do Pop permanece vago ou já há algum sucessor em potencial? Há alguem que consiga aliar a dança com a música de forma tão sincronizada e competente como Michael Jackson fazia e procurou fazer até o fim de sua vida?

Não discuto a questão de seus hábitos esquisitos, pois parecia uma criança que não cresceu e preferia viver na sua Terra do Nunca, como na história de Peter Pan. Sua transformação física, que foi pública e notória, só provocou uma onda de boatos sem fim. Os seguidos escândalos envolvendo menores também desgastaram sua imagem pública. Mas a sua obra musical ainda permanece atual. Isso ninguém é capaz de contestar

Ouvir os discos Off The Wall e Thriller é o mesmo que ter uma aula de música pop de qualidade. Junto com o produtor Quincy Jones, Jackson, que ainda criança foi revelado no grupo vocal Jackson 5 com os irmãos, lançou bases sólidas. Billie Jean, Rock With You e tantas outras canções são ícones que mesclam elementos da tradicional soul music com uma série de outras influências.

Muitos são os candidatos ao trono de rei do pop. Falam em Justin Timberlake, por exemplo. Eu acredito que o trono ainda está vago. Nenhum artista atual conseguiu chegar perto do impacto que produziu Michael Jackson. Pode até ser que alguem surja nos próximos anos e nos surpreenda como ele fez. Mas por enquanto, são apenas boas promessas.

Como exemplo de sua genialidade, optei postar a canção que mais gosto de seu repertório. Billie Jean é a cara dos anos 80, pois ajudou embalou a trilha sonora da década.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Stevie Wonder mais vivo do que nunca


Presenciar um show de Stevie Wonder corresponde o mesmo que ver um jogo de futebol ganho antecipadamente, e de goleada. Não bastasse ser uma lenda viva da música internacional, ele ainda destila no palco clássicos que permanecem atuais no tempo presente mesmo tendo sido compostos há decadas atrás. Sua energia no palco continua intacta, para a felicidade geral da nação que curte a boa música regada ao estilo soul norte-americano com generosas pitadas pop.

Seu lançamento mais recente, o CD e DVD Live At Last, é uma prova incontestável de que seu talento está imune ao teste do tempo. Funciona como uma coletânea de clássicos revisitada de forma competente ao vivo.

O disco abre com uma sequência que inclui as canções Master Blaster (com arranjo no estilo reggae nos metais) e a bela As If You Read My Mind, que apesar de menos conhecida, não deixa a qualidade do show cair.

Ele toca um medley com canções de dois grupos britânicos da década de 60, os Beatles e os Rolling Stones (I Wanna Hold Your Hand e Satisfaction), usando o talk box, uma espécie de equipamento eletrônico acoplado a um pedal de efeitos sonoros, com o qual ele emula sons com a própria voz, imitando uma guitarra.

Mas é nos clássicos que Stevie Maravilha nos brinda com sua tradiconal perfomance cheia de energia. Não há como evitar sair dançando ou estalar os dedos ao ouvir os arranjos de Signed Sealed Delivered I´m Yours e Sir Duke, ambas mantendo o conteúdo das gravações originais.

Superstitious é um capítulo a parte. Um divisor de águas na música soul de seu álbum antológico dos anos 70 (Talking Book). A canção foi elevada até a última potência por conta de seu poderoso riff, quase beirando o jazz. Não é a toa que ela é constantemente regravada por músicos ligados ao jazz ou mesmo ao rock, como Jeff Beck (que aliás se situa no meio termo entre os dois estilos).

Nas baladas ele se mostra insuperável. Lately, que Gal Costa cantou em português nos anos 80 (Nada Mais), é de uma beleza ímpar, assim como My Cherie Amour (cantada em uníssono pelo público presente) e You Are The Sunshine Of My Life (a minha preferida de seu repertório).

Se você quiser comprar um disco ou DVD sem ter medo de arriscar, opte por Live At Last. Dificilmente você deixará de gostar das maravilhas cantadas pelo Stevie Wonder. Desde já, um item imprescindível em sua coleção particular.

Como não há vídeos disponíveis na internet do show, optei por colocar uma apresentação de 2009, na qual Stevie Wonder divide o palco com Jeff Beck, com o clássico Superstitious. Isso já dá uma amostra do que você irá encontrar em Live At Last.

domingo, 16 de maio de 2010

Roger Hodgson em Sampa


Nunca escondi de ninguém ser fã de Supertramp. Suas canções embalaram minha adolescência e até hoje perduram em minha memória. E as que eram soladas por aquele cantor de voz em falsete agudo eram as que eu mais gostava. Pelo simples fato de que eram canções mais emblémáticas. O cara abordava temas com os quais eu me identificava, como a que tratava das angústias de ter que encarar a maturidade antes do tempo previsto (The Logical Song) ou a que dava aquele tapa certeiro na cara dos descrentes(Dreamer).

No dia 14 de maio, tive a oportunidade de ver o tal cantor da voz em falsete, chamado Roger Hodgson, em um show no Via Funchal. Para a ocasião ele montou uma banda de apoio que procurou reproduzir com perfeição a sonoridade de seu antigo conjunto, que havia deixado em 1983 para se dedicar mais a família e a sua carreira solo.

E para minha grata satisfação, percebi que a voz de Hodgson continua intacta, apesar da idade (fez 60 anos em março). Sua musicalidade e presença de palco também não foram afetadas pelo o tempo. É um daqueles artistas facilmente reconhecíveis ao primeiro acorde da canção ou no primeiro verso cantado.

O show contou com os velhos clássicos do Supertramp. Abriu com Take The Long Way Home (com direito a introdução de gaita harmônica e seguiu com Give A Litte Bit e Hide In Your Shell. Apresentou canções do álbum Crisis What´s Crisis? (Easy Does It, Sister Moonshine e Lady) que foram reconhecidas pelo numeroso público que lotou as dependências do Via Funchal.

Na parte final, a execução de Fool´s Overture, uma peça musical de 10 minutos, com influência direta do rock progressivo, levou a plateia ao delírio. E no bis, ele ainda emendou duas canções incrivelmente atuais: School e It´s Raining Again, ambas cantadas em uníssono pelo público.

Como fã, fiquei plenamente satisfeito. Não pela repetição dos clássicos em si. Mas pelo fato de vê-lo vivo, feliz e ainda com algo a dizer ao público em geral com sua música. Suas canções mais recentes, como The Awakening e Along Came Mary provam que ele continua produzindo pérolas musicais que precisam ser melhor divulgadas. A música pop e o rock agradeceriam de bom grado tal contribuição.

Para quem não conhece sua obra ou não teve oportunidade de vê-lo ao vivo em São Paulo, segue abaixo um vídeo gravado em 2006 em Montreal, com o clássico Dreamer.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Erasmo Carlos - 50 anos de Rock


Sem fazer muito alarde, o nosso eterno Tremendão, Erasmo Carlos, está completando 50anos de carreira. Começou um pouco depois do seu parceiro, o Rei Roberto Carlos, é bem verdade. Mas sua trajetória singular dentro da música serviu para mostrar o quanto é inquieta a sua personalidade, sempre ligada ao autêntico rock´n roll.

Nascido em 1941 na Cidade Maravilhosa, Erasmo Esteves (seu nome verdadeiro) atuou como um coadjuvante de luxo no movimento musical que marcaria a década de 60: a Jovem Guarda. Formou um trio com Roberto Carlos e Wanderléa que se tornaria símbolo do programa semanal que embalaria as jovens tardes de domingo. Impossível deixar de lembrar de suas performances ao vivo, dedilhando a corrente como se estivesse tocando uma guitarra, com as mãos cheias de anéis.

Sua gravação de Sentado a Beira do Caminho (composta em parceria com Roberto Carlos)acaba sendo marcada como o canto do cisne da Jovem Guarda. Foi tão marcante que até hoje ele é obrigado a cantar essa composição em seus shows.

No início dos anos 70, acontece uma guinada corajosa em sua carreira musical. Em 1971 grava o antológico álbum Carlos, Erasmo, que traz uma sonoridade diferente daquela que ele desenvolvia na Jovem Guarda. Inclui canções de Caetano Veloso, Taiguara e faz uma bela releitura de Teletema, canção de Antonio Adolfo (autor de Sá Marina).

A partir daí ele lançou discos cada vez mais densos (A Banda dos Contentes foi um exemplo). Mas jamais perdeu o bom humor e a descontração que tanto marcaram a sua carreira. O Tremendão explorava sons da MPB, inspirado por nomes como Chico Buarque. E ganhava cada vez mais o respeito da crítica ao compor canções que defendiam temas sérior, como a preservação do meio ambiente. Isso em uma época que o termo ecologia ainda era algo abstrato para o público em geral.


Sua apresentação equivocada na primeira edição do Rock´n Rio, em 1985, não conseguiu manchar a sua carreira. O próprio produtor do evento, o empresário Roberto Medina, admitiu que foi um erro coloca-lo junto com grupos como AC/DC e Iron Maiden. O público jamais ia aceitá-lo ali.

Hoje em dia o Tremendão tem lançado álbuns bem cuidados, que têm no rock a sua principal fonte de inspiração. Se o Rei Roberto se atirou de cabeça na música romântica, Erasmo serviu como o fiel da balança, mantendo o pé firme no rock e experimentando novas sonoridades.

Não foi por acaso que o nome do seu disco mais recente, gravado em 2009, acabou sendo batizado apenas como Rock´n Roll. E é imperdível. O Tremendão continua cantando como nunca. Brinca de Raul Seixas na canção Cover (Sou um cover de mim mesmo...), retoma a questão ambiental (Chuva Ácida) e associa a figura da guitarra com a da mulher (A guitarra é uma mulher).

Erasmo Carlos podia ter se acomodado ao lado da parceria com Roberto Carlos. Mas não fez isso. Continuou desenvolvendo sua carreira solo com integridade e, acima de tudo, autenticidade. Ele é sempre lembrado como o verdadeiro Pai do Rock Nacional. Aquele que nunca abandonou o estilo, mesmo tendo explorado outras sonoridades.

Quem quiser ouvir uma prévia do seu último disco pode acessar o site oficial do Tremendão (www.erasmocarlos.com.br), que fornece ainda outras informações sobre o seu trabalho mais recente. Ou então ler a sua divertida autobiografia, intitulada Minha Fama de Mau (nome de um de seus hits dos anos 60).

Escolhi postar o vídeo da faixa de abertura de seu último disco. E que por sinal é um dos grandes momentos do CD. Vida longa ao nosso Tremendão.

domingo, 28 de março de 2010

Renato Russo - Tempo Perdido


Tenho certeza que os 50 anos que Renato Russo competaria no dia 27 de março seriam mais do que uma celebração. Se estivesse vivo, creio que estaria envolvido com a música. Mas de uma forma mais relaxada, aproveitando mais o tempo ao invés de simplesmente desperdiçá-lo. Estaria ele mais maduro e seguro do que ele queria como artista.


Comentar o seu mais recente disco, Duetos, seria desnecessário. Não há grandes novidades. Algumas faixas já foram mais do que tocadas nas rádios, como Mais Uma Vez, com o grupo 14 Bis. O disco na verdade funcionaria como uma mera coletânea, não fosse pelo belo dueto com a Fernanda Takai. Unidos pela tecnologia. Takai e Russo cantam Like a Lover, versão em inglês de O Cantador, de Dori Caymmi e Nelson Motta. A mesma canção que Elis Regina defendeu em um festival de música dos anos 60. Mas a versão em inglês é a mesma que o músico Sérgio Mendes gravou na mesma época.

Só me pergunto se mais uma coletânea desse tipo seria necessária? Morto em 1996, Renato Russo deixou dois discos solo e uma carreira intensa com a banda Legião Urbana, cujo legado é até hoje reverenciado pelos fãs e pelo público que viveu os anos 80. Mesmo a geração dos anos 90 não deixa de reconhecer Russo como um dos ícones do Rock Nacional. Alguém cujas letras tinha alguma consistência poética convincente. Alguém que tinham algo para dizer ao jovem e ao público em geral.

Duetos só teve o mérito de trazer a tona o mito em torno de Renato Russo. Muito mais do que um cantor, ele trouxe para o rock um tipo de música que tanto podia ser contestatória (Geração Coca-Cola, Que País é Este?) como poderia tratar de assuntos ligados ao coração das pessoas (Quando o sol bater na janela do seu quarto, Vamos fazer um filme). Com certeza, foi uma vida breve, mas muito intensa no meio musical. E parafresando o trecho uma de suas canções mais conhecidas: Não foi tempo perdido. Nada foi em vão. Senão, a sua obra não estaria por aí, sendo reverenciada por várias gerações.

Escolhi este vídeo por ser junto com o Herbert Vianna. Além de conviver com ele em Brasília, Herbert ainda deu uma força para o amigo, gravando uma canção no primeiro disco dos Paralamas do Sucesso (Química) e levando uma fita com músicas da Legião Urbana para a gravadora.