terça-feira, 8 de novembro de 2011

Quando o blues e o jazz se unem


Quando soube desse disco, fui logo buscando informações pela internet. Eric Clapton, lenda viva do blues e do rock, resolve unir forças com ninguém menos do que o também lendário músico de jazz Wynton Marsalis. Em comum, os dois são defensores da tradição de seus respectivos estilos musicais. Frequentemente gravam discos mantendo-se fiéis aos arranjos originais.

Nesse trabalho registrado em disco ao vivo, batizado como Pay The Blues, a proposta foi um pouco mais ousada. Foi montada uma banda aos moldes antigos, com ênfase no naipes de metais, ao estilo do jazz que era praticado em New Orleans, nos Estados Unidos, no início do século passado. E escolheram um repertório com clássicos dos anos 40/50, além de uma releitura pouco convencional de Layla, de Clapton.

O disco segue a linha musical do mestre Big Joe Turner, um músico que fez bastante sucesso no final dos anos 50, que foi um dos responsáveis pelo que viria a ser conhecido como Rock´n Roll nos anos seguintes. Não por acaso há uma composição feita em sua homenagem e a releitura de Corina Corina, um hit de seu repertório que fez sucesso até no Brasil com outros intérpretes.

Na prática, a sonoridade mescla o jazz tradicional com o rock´n roll dos anos 50, que naquela época tinha uma presença muito forte do blues tocado com guitarra elétrica.

Para os puristas, ouvir Layla com um arranjo bastante modificado em relação ao original pode ser um choque no início. Mas depois da segunda audição, o ouvinte se convence que a proposta é bem interessante e acaba gostando do resultado final.

Pay The Blues é um projeto conceitual, ou seja, fora dos padrões convencionais dos dois músicos. Foi mais um ponto positivo para a carreira do mestre Clapton, que se associa de forma brilhante a outro mito (Marsalis).

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O soul man está de volta


Certas vozes têm o dom de transportar nossas mentes para um tempo diferente do atual. E impressionam pela qualidade perene que desenvolvem apesar do passar dos anos. Como um bom vinho, elas se aprimoram a cada ano que passa.

Com o cantor de soul Percy Sledge, esta máxima prevalece. Seu disco lançado recentemente, My Old Friend The Blues, é muito mais do que um resgate do passado. Ele provou que sua música atravessou décadas. E ainda serve como referência para a música pop. É uma verdadeira aula de soul para os intérpretes iniciantes.

Para quem não se lembra, Sledge é o cantor que lançou em 1966 o antológico hit When A Man Loves A Woman, que foi regravado várias vezes ao longo dos anos. Mas nenhuma versão conseguiu superar a sua, que continua mais atual do que nunca.

O disco tem 14 faixas, a maioria delas com canções que ele ainda não havia gravado. Curiosamente, os arranjos saudosistas sugerem que elas soem como seus antigos hits. Shinning Through The Rain, por exemplo, tem arranjo calcado na soul dos anos 60, com os metais e a guitarra marcando o ritmo.

A voz de Percy Sledge oscila de forma coerente entre o amargo e o doce. Um timbre agudo que parece querer rasgar os corações a sua volta. Mas que também consegue ser doce ao cantar as indefectíveis baladas soul que pontuam seu repertório desde os anos 60.

Voltando ao disco, as faixas contém canções com influências do folk e soul. E claro, o velho amigo blues também comparece na faixa Big Blue Diamonds. A balada soul Misty Morning só confirma que o mestre continua em plena forma. Impossível não se deixar emocionar com essa sua interpretação.

Infelizmente, o CD ainda não chegou ao mercado brasileiro. E é bem provável que nem seja lançado. Uma pena, pois um artista com a tradição de Percy Sledge merecia um espaço bem maior do que é disponibilizado no mercado fonográfico, que se limita apenas a lançar coletâneas de seus antigos hits.