sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Os Beatles remasterizados





A notícia do relançamento dos discos oficiais dos Beatles remasterizados trouxe um novo alento para os fãs que buscam novidades. Porém, para nós, reescrever esta história é sempre um desafio.

Chegaram a me sugerir fazer um box explicando cada disco. Mas, como a ideia já foi exaustivamente executada, inclusive recentemente, por vários outros veículos de comunicação, optei por comentá-los em um único texto.


Os discos originais da primeira fase da banda, de 1962 a 1965, mostram uma série de detalhes interessantes que o ouvinte mais atento perceberá. Please Please Me, With The Beatles, A Hard Day´s Night, Beatles For Sale e Help, têm uma sonoridade mais compacta, com os eternos refrões grudentos (quem é que não sabe assobiar a introdução de Love me Do?). John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr tem sua área de atuação definida dentro das gravações.

A diferença é justamente a separação dos instrumentos provocada pela remasterização. Ficou mais clara a forma de atuação dos Beatles como instrumentistas. O trabalho de base (baixo e bateria) dos arranjos ficou bem mais perceptível.



A partir dos álbuns Rubber Soul e Revolver, que representam um período de transição da banda (entre 1966 e 1967), marcado pelo falecimento do empresário Brian Epstein, o som fica mais trabalhado. A produção fica mais clara em composições que usam os chamados recursos de estúdio, como Tomorrow Never Knows (do disco Revolver).

Entre 1967 e 1969, a fase final da banda, temos pelo menos três obras-primas: Seargent Pepper`s Lonely Heart´s Club Band, o Álbum Branco e Abbey Road, este o último gravado em estúdio pelos quatro integrantes. Todos discos que usam e abusam dos recursos de estúdio. Nesse caso, a remasterização somente agregou valores ao que já era bom. O mesmo vale para o Magical Mystery Tour, que tem faixas experimentais como I Am The Walrus. Let It Be, o derradeiro álbum lançado em 1970, na verdade já havia sido concebido quase um ano antes. O som das faixas desse disco ficou ainda melhor.

Tudo o que se gera de lançamentos relativos aos Beatles sempre causa um certo frisson na mídia em geral. Mas apesar de ter sido contada inúmeras vezes, a trajetória dos Beatles permanece servindo como referência para músicos de várias partes do mundo.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A música segundo Wilson Simonal



Quando morreu em 25 de junho de 2000, aos 62 anos de idade, completamente esquecido da mídia, Wilson Simonal sequer imaginava que sua obra seria reverenciada pelo público das mais variadas gerações nos anos seguintes. Apontado como um dos intérpretes mais versáteis da MPB, Simonal deixou um legado que atesta toda a sua genialidade.


Independentemente da fama de dedo-duro do regime militar, motivada pela relação conturbada com o contador, Simonal conserva uma especie de aura em torno de seu talento, que o transformou em uma unanimidade. Mesmo os que não o consideram um injustiçado reconhecem que ele era um excelente cantor, capaz de conduzir as massas com um hit emprestado do cancioneiro popular (Meu Limão, Meu Limoeiro).


O documentário Ninguém Sabe o Duro que Dei, produzido e dirigido por Cláudio Manoel, do programa Casseta e Planeta, tem uma trilha sonora composta por 16 canções que retratam fielmente a trajetória do ídolo que dominou o meio artistico dos anos 60 no País.


Parece improvável que um artista negro pudesse rivalizar com o Rei Roberto Carlos em pleno auge da Jovem Guarda. Mas foi exatamente o que aconteceu. Em 1969, em um Maracanãzinho lotado, ele participou de um show antológico com a banda de Sérgio Mendes e provou a força de seu carisma.


Na trilha, há os hits grudentos - no bom sentido - como Carango (de onde foi retirada a frase que inspirou o nome ao documentário) e Mamãe Passou Açúcar em Mim e Vesti Azul. Nem Vem Que Não Tem pode ser apontada como precursora do hip hop nacional, com sua interpretação quase falada dos versos.


Simonal brinca até com a bossa nova. Balanço Zona Azul, incluída na trilha do documentário, é uma amostra do que ele poderia fazer com o estilo musical de harmonias difícieis.
Para Simonal, a música era sem limites. Tinha um senso de divisão comparável aos dos grandes cantores americanos. O inglês, aliás, ele dominava como ninguém.



Tributo a Martin Luther King, composta pelo próprio Simonal em parceria com Ronaldo Bôscoli, tem uma letra engajada que reverencia o líder pacificista americano que morreu assassinado em 1968.


E o que dizer de Sá Marina? Não há como ficar indiferente com a interpretação de Simonal, incrivelmente densa e emocionada. Ele parece brincar com os versos alegres da canção de Tibério Gaspar e Antonio Adolfo (...Roda pela vida afora e põe prá fora essa alegria...).


Simonal pode até não ter sido um injustiçado. Mesmo que todas as acusações sobre sua pessoa tivessem sido comprovadas, o seu legado musical não merecia ter sido relegado a um ostracismo cruel. Não é à toa que o documentário está resgatando sua obra musical, despertando o interesse de um público cada vez maior.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O estilo country segundo John Fogerty



Trinta a seis anos depois de ter prestado um tributo a country music em seu primeiro trabalho como artista solo, o músico John Fogerty, fundador da banda Creedence Clearwater Revival, retoma as raízes folk em seu mais recente lançamento. The Blue Ridge Rangers Rides Again traz vários clássicos do estilo que serviu de base para sua formação musical.


No primeiro trabalho, lançado em 1973, Fogerty tocou a maioria dos instrumentos. Desta vez, ele se cercou de um time competente de músicos. E ainda contou com Bruce Springsteen como convidado em uma das faixas (When Will I Be Loved).

O disco tem 12 clássicos de artistas como John Prine, Buck Owens, Everly Brothers e John Denver. A mescla de canções feitas por gerações diferentes parece que deu ao disco um frescor novo. Não soa repetitivo, embora o estilo country costume tender para o mais comercial, fácil de tocar em rádio.

É impossível deixar de relacionar a música country com o Creedence e, por consequência, com o trabalho solo de Fogerty. Basta escutar os discos de sua antiga banda e de sua fase atual como artista solo, para perceber a nítida influência em várias canções, além do rock´n roll dos anos 50/60, é claro.

Back Home Again é uma ótima canção de John Denver que Fogerty resgata de forma oportuna e competente. E se complementa de forma hamônica com outras mais antigas, como Moody River, sucesso de Pat Boone do início dos anos 60.

A instrumentação é discreta e jamais se sobrepõe a melodia e a voz de Fogerty (que está em plena forma), apesar de o artista ser um solista competente. Os arranjos funcionam como uma moldura de um quadro, que só complementa e ressalta a beleza da obra de arte.


É possível notar que algumas canções do disco poderiam ter sido lançadas em álbuns do Creedence, como I Don´t Care (Just as Long as You Love me) e I´ll Be There (não confundir com o hit homônimo do Jackson 5).


The Blue Ridge Rangers Rides Again é um disco que agrada tantos os fãs do Creedence como os que admiram os estilos country e folk. Com esse novo trabalho, Fogerty acerta mais uma vez no gosto do público. E mostra para as gerações mais novas como foi moldado o seu estilo inconfundível como cantor e compositor