terça-feira, 25 de maio de 2010

Stevie Wonder mais vivo do que nunca


Presenciar um show de Stevie Wonder corresponde o mesmo que ver um jogo de futebol ganho antecipadamente, e de goleada. Não bastasse ser uma lenda viva da música internacional, ele ainda destila no palco clássicos que permanecem atuais no tempo presente mesmo tendo sido compostos há decadas atrás. Sua energia no palco continua intacta, para a felicidade geral da nação que curte a boa música regada ao estilo soul norte-americano com generosas pitadas pop.

Seu lançamento mais recente, o CD e DVD Live At Last, é uma prova incontestável de que seu talento está imune ao teste do tempo. Funciona como uma coletânea de clássicos revisitada de forma competente ao vivo.

O disco abre com uma sequência que inclui as canções Master Blaster (com arranjo no estilo reggae nos metais) e a bela As If You Read My Mind, que apesar de menos conhecida, não deixa a qualidade do show cair.

Ele toca um medley com canções de dois grupos britânicos da década de 60, os Beatles e os Rolling Stones (I Wanna Hold Your Hand e Satisfaction), usando o talk box, uma espécie de equipamento eletrônico acoplado a um pedal de efeitos sonoros, com o qual ele emula sons com a própria voz, imitando uma guitarra.

Mas é nos clássicos que Stevie Maravilha nos brinda com sua tradiconal perfomance cheia de energia. Não há como evitar sair dançando ou estalar os dedos ao ouvir os arranjos de Signed Sealed Delivered I´m Yours e Sir Duke, ambas mantendo o conteúdo das gravações originais.

Superstitious é um capítulo a parte. Um divisor de águas na música soul de seu álbum antológico dos anos 70 (Talking Book). A canção foi elevada até a última potência por conta de seu poderoso riff, quase beirando o jazz. Não é a toa que ela é constantemente regravada por músicos ligados ao jazz ou mesmo ao rock, como Jeff Beck (que aliás se situa no meio termo entre os dois estilos).

Nas baladas ele se mostra insuperável. Lately, que Gal Costa cantou em português nos anos 80 (Nada Mais), é de uma beleza ímpar, assim como My Cherie Amour (cantada em uníssono pelo público presente) e You Are The Sunshine Of My Life (a minha preferida de seu repertório).

Se você quiser comprar um disco ou DVD sem ter medo de arriscar, opte por Live At Last. Dificilmente você deixará de gostar das maravilhas cantadas pelo Stevie Wonder. Desde já, um item imprescindível em sua coleção particular.

Como não há vídeos disponíveis na internet do show, optei por colocar uma apresentação de 2009, na qual Stevie Wonder divide o palco com Jeff Beck, com o clássico Superstitious. Isso já dá uma amostra do que você irá encontrar em Live At Last.

domingo, 16 de maio de 2010

Roger Hodgson em Sampa


Nunca escondi de ninguém ser fã de Supertramp. Suas canções embalaram minha adolescência e até hoje perduram em minha memória. E as que eram soladas por aquele cantor de voz em falsete agudo eram as que eu mais gostava. Pelo simples fato de que eram canções mais emblémáticas. O cara abordava temas com os quais eu me identificava, como a que tratava das angústias de ter que encarar a maturidade antes do tempo previsto (The Logical Song) ou a que dava aquele tapa certeiro na cara dos descrentes(Dreamer).

No dia 14 de maio, tive a oportunidade de ver o tal cantor da voz em falsete, chamado Roger Hodgson, em um show no Via Funchal. Para a ocasião ele montou uma banda de apoio que procurou reproduzir com perfeição a sonoridade de seu antigo conjunto, que havia deixado em 1983 para se dedicar mais a família e a sua carreira solo.

E para minha grata satisfação, percebi que a voz de Hodgson continua intacta, apesar da idade (fez 60 anos em março). Sua musicalidade e presença de palco também não foram afetadas pelo o tempo. É um daqueles artistas facilmente reconhecíveis ao primeiro acorde da canção ou no primeiro verso cantado.

O show contou com os velhos clássicos do Supertramp. Abriu com Take The Long Way Home (com direito a introdução de gaita harmônica e seguiu com Give A Litte Bit e Hide In Your Shell. Apresentou canções do álbum Crisis What´s Crisis? (Easy Does It, Sister Moonshine e Lady) que foram reconhecidas pelo numeroso público que lotou as dependências do Via Funchal.

Na parte final, a execução de Fool´s Overture, uma peça musical de 10 minutos, com influência direta do rock progressivo, levou a plateia ao delírio. E no bis, ele ainda emendou duas canções incrivelmente atuais: School e It´s Raining Again, ambas cantadas em uníssono pelo público.

Como fã, fiquei plenamente satisfeito. Não pela repetição dos clássicos em si. Mas pelo fato de vê-lo vivo, feliz e ainda com algo a dizer ao público em geral com sua música. Suas canções mais recentes, como The Awakening e Along Came Mary provam que ele continua produzindo pérolas musicais que precisam ser melhor divulgadas. A música pop e o rock agradeceriam de bom grado tal contribuição.

Para quem não conhece sua obra ou não teve oportunidade de vê-lo ao vivo em São Paulo, segue abaixo um vídeo gravado em 2006 em Montreal, com o clássico Dreamer.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Erasmo Carlos - 50 anos de Rock


Sem fazer muito alarde, o nosso eterno Tremendão, Erasmo Carlos, está completando 50anos de carreira. Começou um pouco depois do seu parceiro, o Rei Roberto Carlos, é bem verdade. Mas sua trajetória singular dentro da música serviu para mostrar o quanto é inquieta a sua personalidade, sempre ligada ao autêntico rock´n roll.

Nascido em 1941 na Cidade Maravilhosa, Erasmo Esteves (seu nome verdadeiro) atuou como um coadjuvante de luxo no movimento musical que marcaria a década de 60: a Jovem Guarda. Formou um trio com Roberto Carlos e Wanderléa que se tornaria símbolo do programa semanal que embalaria as jovens tardes de domingo. Impossível deixar de lembrar de suas performances ao vivo, dedilhando a corrente como se estivesse tocando uma guitarra, com as mãos cheias de anéis.

Sua gravação de Sentado a Beira do Caminho (composta em parceria com Roberto Carlos)acaba sendo marcada como o canto do cisne da Jovem Guarda. Foi tão marcante que até hoje ele é obrigado a cantar essa composição em seus shows.

No início dos anos 70, acontece uma guinada corajosa em sua carreira musical. Em 1971 grava o antológico álbum Carlos, Erasmo, que traz uma sonoridade diferente daquela que ele desenvolvia na Jovem Guarda. Inclui canções de Caetano Veloso, Taiguara e faz uma bela releitura de Teletema, canção de Antonio Adolfo (autor de Sá Marina).

A partir daí ele lançou discos cada vez mais densos (A Banda dos Contentes foi um exemplo). Mas jamais perdeu o bom humor e a descontração que tanto marcaram a sua carreira. O Tremendão explorava sons da MPB, inspirado por nomes como Chico Buarque. E ganhava cada vez mais o respeito da crítica ao compor canções que defendiam temas sérior, como a preservação do meio ambiente. Isso em uma época que o termo ecologia ainda era algo abstrato para o público em geral.


Sua apresentação equivocada na primeira edição do Rock´n Rio, em 1985, não conseguiu manchar a sua carreira. O próprio produtor do evento, o empresário Roberto Medina, admitiu que foi um erro coloca-lo junto com grupos como AC/DC e Iron Maiden. O público jamais ia aceitá-lo ali.

Hoje em dia o Tremendão tem lançado álbuns bem cuidados, que têm no rock a sua principal fonte de inspiração. Se o Rei Roberto se atirou de cabeça na música romântica, Erasmo serviu como o fiel da balança, mantendo o pé firme no rock e experimentando novas sonoridades.

Não foi por acaso que o nome do seu disco mais recente, gravado em 2009, acabou sendo batizado apenas como Rock´n Roll. E é imperdível. O Tremendão continua cantando como nunca. Brinca de Raul Seixas na canção Cover (Sou um cover de mim mesmo...), retoma a questão ambiental (Chuva Ácida) e associa a figura da guitarra com a da mulher (A guitarra é uma mulher).

Erasmo Carlos podia ter se acomodado ao lado da parceria com Roberto Carlos. Mas não fez isso. Continuou desenvolvendo sua carreira solo com integridade e, acima de tudo, autenticidade. Ele é sempre lembrado como o verdadeiro Pai do Rock Nacional. Aquele que nunca abandonou o estilo, mesmo tendo explorado outras sonoridades.

Quem quiser ouvir uma prévia do seu último disco pode acessar o site oficial do Tremendão (www.erasmocarlos.com.br), que fornece ainda outras informações sobre o seu trabalho mais recente. Ou então ler a sua divertida autobiografia, intitulada Minha Fama de Mau (nome de um de seus hits dos anos 60).

Escolhi postar o vídeo da faixa de abertura de seu último disco. E que por sinal é um dos grandes momentos do CD. Vida longa ao nosso Tremendão.